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Batuque do Progresso

Projeto Maracambuco promove a cultura através da responsabilidade social.

Dança de origem afro-brasileira baseada no folclore pernambucano, o Maracatu tem aproximadamente três séculos de existência (seus primeiros registros datam de 1711) e, apesar de ser um traço marcante e característico do carnaval, tornou-se motivo suficiente para a criação de um projeto com a intenção de estender a dança às demais épocas do ano, com ensaios semanais e a mobilização de toda a comunidade. Este projeto atende pelo nome de Maracambuco, tem como regente Iemanjá – mãe de todos os orixás e da fertilidade -, e é um dos que melhor representam e disseminam o movimento do Maracatu no Estado, tendo realização na comunidade de Peixinhos, na Vila Popular, um dos bairros mais carentes de Pernambuco.

As apresentações acontecem em frente à própria sede, sempre aos sábados, às 18 horas, e despertam a atenção de todos que passam pela Avenida Presidente Kennedy, movidos pelo espírito contagiante da dança e pelo som irresistível dos instrumentos de percussão. Não há como resistir à tamanha expressão da cultura popular. Mesmo quando os integrantes estão ensaiando na rua, a sensação é de que estão se apresentando no palco ou sendo ovacionados por uma enorme platéia. Seus rostos expressam a alegria e o sentimento de realização trazidos pelo Maracatu. Seus corpos acompanham o ritmo do batuque e transmitem toda a vivacidade da dança. Não dá para pensar em mais nada. A música já tomou conta. É como se dançassem pela primeira vez.

Fundado em 1993 por Marcionilo de Oliveira, o Maracambuco começou como um grupo de maracatu-nação de baque virado e, a princípio, visava apenas realizar cortejos durante o carnaval. Em dezembro de 1999, com uma nova diretoria composta por Camila Sousa (tesoureira e produtora) e Carine Sousa (responsável pela área de Marketing), Marcionilo abriu uma sede em Peixinhos. Foi quando passou a desenvolver trabalhos culturais - como a realização de oficinas de percussão - e sociais - como ações de assistência à comunidade. O que havia começado como um fã-clube do maracatu-nação ganhava agora uma outra dimensão e uma responsabilidade social ainda maior.

Compondo o outro lado dos que fazem o projeto acontecer, estão batuqueiros, princesas, reis e rainhas. O grupo hoje conta com cerca de duzentos e cinqüenta integrantes, com idades entre dez e vinte anos (além do projeto Maracambuco, com jovens entre 15 e 20 anos, há o Maracambuquinho, que conta com alunos com idades entre 10 e 14 anos), tendo passado por ele cerca de seiscentas pessoas.
Marcionilo é o Presidente do projeto, mas não gosta de ser chamado assim. “Eu nunca digo que sou Presidente, digo que sou zelador. Eu zelo pelos meus alunos e pelo projeto como um todo”, conta. É ele quem cria os figurinos, costura as fantasias, carrega o estandarte. É o cantor, compositor e regente da banda e, mais que isso, é o principal divulgador e preservador do Maracatu na comunidade, tanto que teve de enfrentar águas turbulentas para realizar o sonho de registrar as apresentações do Maracambuco em DVD, meio através do qual tenta, com dificuldades, conseguir patrocínio com as empresas privadas. O material de divulgação é oferecido exclusivamente a produtores e assessorias de imprensa.

Sustentado pelos apoios que recebe, entre seus patrocinadores estão a Frevo e a Ortobom. O Maracambuco mantém ainda uma parceria com a Rede Globo Nordeste, por meio da qual houve a divulgação do projeto, através de uma reportagem exibida no Jornal Hoje, em fevereiro de 2005.
A inserção desses jovens no movimento é também vista como um meio de tentar combater ou amenizar a problemática da violência e dos demais males que a acompanham e que assolam qualquer comunidade, seja ela pertencente à classe alta, média ou baixa. Estar no projeto é uma forma de descobrir e aprimorar o talento escondido, ocupar suas mentes, envolvê-los para a arte e construir um futuro.

Os alunos do movimento, além de realizar apresentações nos teatros e festas locais, já tiveram a oportunidade de mostrar suas habilidades em lugares como Salvador, Rio de Janeiro, São Paulo e até em Paris, sempre com uma ótima recepção por parte do público. O segredo? O amor pelo trabalho que está sendo feito.

As apresentações que são realizadas em Pernambuco geram um retorno de R$ 10,00 por participante. Fora do estado, os integrantes do Maracambuco recebem, cada um, de R$ 150,00 a R$ 200,00.
Entre os projetos que são desenvolvidos pelo grupo estão o Eu Sou Parceiro (projeto que visa o apoio de empresas privadas na captação de recursos para a manutenção mensal da sede e dos ensaios) e o Folclore na Vila (evento gratuito de artistas e grupos ernmabucana om e passou a desenvolver traque objetiva promover a cultura pernambucana com apresentações de artistas e grupos durante o folclore, na comunidade).

Há ainda um projeto chamado Maracambuco Encanta Nordeste, que pretende desenvolver uma turnê do grupo por oito capitais da região com realização de workshops, e que já foi aprovado pela Lei Rouanet (Lei Federal de Incentivo à Cultura), mas não pôde prosseguir devido à falta de recursos.
Uma das maiores preocupações de Marcionilo, no entanto, é com o desempenho de seus alunos fora do projeto. Para isso, ele procura ficar atento a tudo o que acontece com os integrantes no convívio familiar e na escola, já que, para estarem inseridos no projeto, eles não podem ter uma má conduta fora dele. “Eu sei o problema de cada um dos meus alunos, não só como batuqueiros, mas também dentro da família e na escola. Por isso, quando fazem a inscrição, a primeira pergunta que faço é se estão estudando”, destaca.

O Maracatu Nação Maracambuco ainda conta com aulas gratuitas de percussão e dança, além de fazer um importante trabalho de assessoria nas escolas. Entre os planos de Marcionilo, estão cursos de informática e de assistência à saúde, sem esquecer – é claro – do principal responsável por tudo isso: o Maracatu.

[Ralny Lucas]




http://www.maracambuco.com.br